domingo, 18 de outubro de 2009

Amor

Ocioso, como raramente se via, ele acabou se sentando na velha poltrona com um álbum empoeirado nas mãos. Nem se lembrava mais das fotos que estavam ali. Então, abriu-o e deixou-se viajar pelo tempo, olhando aquelas imagens dos momentos que não voltariam mais. E olhando para ela, que, é claro, estava ao seu lado. Como sempre havia estado.
Como eram bonitos os seus olhos! E o seu sorriso tinha uma força que ele não vira em nenhum outro. Sentia-se novamente apaixonado por ela.
Seria a mesma que chegaria do trabalho daí a pouco e começaria a contar todas as desavenças do seu dia? Talvez... Talvez a moça mais linda de sua juventude ainda estivesse em algum lugar naquela mulher.
As imagens o transportavam para o momento em que as fotos haviam sido tiradas. E ele quase respondia em voz alta quando se lembrava das conversas que tiveram. Meu Deus, como o tempo passa rápido! Nesse tempo eles jamais se imaginariam juntos, numa família de quatro pessoas, vinte anos depois!
Tinham sido felizes? Tinham aproveitado a vida?
E o filme em sua cabeça começou a rodar: ela, tão linda, entrando de noiva na igreja lotada! Eles tendo problemas com as contas nos primeiros meses do casamento... O dia em que ela lhe dissera que estava grávida: o seu primeiro filho! Será que existia uma emoção maior do que essa? E a menina? Como era carinhosa! Ela podia pedir o que quisesse que ele encontraria uma forma de agradá-la, apesar da situação financeira nunca ter sido muito fácil. Lembrou-se de ter assinado os boletins das crianças, tantas vezes, orgulhoso! Será que os filhos haviam herdado isso dele ou da mãe? Como eram inteligentes! Como ele era feliz por ser o pai deles!
Lembrou-se de todas as vezes em que a esposa encontrou uma nova ruga e veio, aos prantos, reclamar do tempo. Depois vieram os cabelos brancos e seu peso foi aumentando... Mas, ora essa, ela ainda era linda para uma mulher de quase meio século! E ele ainda a amava, não como quando nos tempos da juventude, mas muito mais!
Ele sabia que, se, de alguma forma, pudesse voltar àqueles tempos, não mudaria muita coisa. Apenas os viveria com mais intensidade... Andaria mais vezes de mãos dadas com ela... Olharia menos vezes para o relógio aos fins de semana... Levaria as crianças mais vezes para o parque... Diria mais vezes o quanto amava cada um.
Ainda estava absorto em seus pensamentos quando ela chegou. Tinha uma sacola de compras e estava reclamando porque ninguém tinha posto o lixo para fora. Devia ter tido um dia meio estressante... Ele não ouviu o que ela estava dizendo. Simplesmente tirou-lhe a sacola das mãos e disse: Amor, vamos sair para jantar hoje?
Marta Lima

Um comentário:

Poem disse...

Amor... e suas significações (Nossa!Me senti o Fillipeli agora, lembra?) rsrsrsrs